– Sophie Deram, nutricionista franco-brasileira, com doutorado da Faculdade de Medicina da USP no departamento de Endocrinologia, pesquisadora em neurociência do comportamento alimentar, PhD em Nutrição e autora do best-seller “O Peso das Dietas”
– Especialista em distúrbios alimentares alerta que a privação nutricional afeta negativamente o organismo e pode despertar desejo ainda maior por comida
É o que defende Sophie Deram, PhD em Nutrição e doutora pela Faculdade de Medicina da USP no departamento de Endocrinologia, com vasta experiência em comportamento alimentar. A especialista afirma que todos deveriam ter ‘boa relação com a comida’, pois esse é o “fator-chave” para a manutenção do peso saudável. “As dietas restritivas alteram nosso metabolismo e nosso comportamento alimentar, aumentam a vontade de comer e podem, inclusive, contribuir para o excesso de peso. Em vez da restrição, o caminho é transformar a relação com a comida e o corpo na hora de sentar à mesa”, diz.
A especialista lembra ainda que profissionais da saúde de outros países, como os Estados Unidos, não recomendam prescrever dietas muito rigorosas aos pacientes. “No Brasil, essa abordagem ainda é nova, mas no exterior o ‘undieting’ já é amplamente difundido”, explica Sophie, que é a pioneira da abordagem sem dieta no Brasil.
1. Frustração e tristeza
A insatisfação com o corpo e a aparência geralmente é o “gatilho” que leva as pessoas a aderirem às dietas restritivas. “O ciclo vicioso da dieta e a dificuldade em atingir a meta almejada levam a sentimentos de frustração e tristeza, ocasionados pela falta de energia física, e que acarretam em prejuízo da vida social. Isso, por si só, já comprova que a privação nutricional é uma ‘armadilha’ que causa danos graves”, pondera Sophie.
2. Desejo pelo alimento proibido
A restrição alimentar desestabiliza o corpo e desperta “desejo incontrolável” por alimentos classificados como “proibidos” na dieta. “É nessa hora que surge a vontade de comer alimentos mais recompensadores, mais energéticos, como frituras, doces e ultraprocessados, tudo que geralmente era proibido. É como se o corpo buscasse, de forma inconsciente, uma compensação por ficar tanto tempo sem se alimentar, o que nos leva para o próximo fator”, diz a especialista.
3. Exagero
O sentimento de “eu mereço…” está presente em situações em que o corpo é submetido ao extremo. Sophie acredita que este é um dos principais perigos, justamente pela sensação de culpa que vem em seguida a um “grande deslize” na dieta pobre em alimentos. O exagero também atrapalha na implantação de uma alimentação saudável, que, segundo a especialista, deve ser variada, equilibrada e consumida com prazer.
4. Culpa e ganho de peso
Com o “ciclo vicioso” instaurado, o peso eliminado passa a ser geralmente recuperado, e, na maioria das vezes, até mais, devido aos excessos cometidos. Para Sophie, a culpa, o arrependimento e até mesmo o peso na consciência surgem, em parte, devido ao excesso de informação sobre alimentação. Têm muitas regras sobre o que pode ou não pode. A expert define esse comportamento como ‘terrorismo nutricional’. As pessoas enxergam os alimentos apenas como nutrientes. “Nunca se falou tanto sobre nutrição e dietas, e jamais a população ganhou tanto peso. Há um paradoxo nesta situação”, enfatiza a nutricionista.
5. Insatisfação corporal
É exatamente neste ponto que o ciclo da dieta restritiva se torna vicioso. O paciente está, mais uma vez, insatisfeito com a própria aparência, e recorrerá às outras alternativas de dietas ineficientes para tentar resolver o problema. Sophie pontua que não se deve permitir que a fita métrica ou a balança definam o nível de satisfação com o corpo ou restrinjam o apetite. “Não tenha medo da fome. Aprenda a reconhecê-la e a acolhê-la”, finaliza ela.
Quanto mais restrição, mais exagero. Hoje a dieta restritiva é mostrada cientificamente como um dos fatores do ganho de peso ao longo prazo. Diga não a dieta restritiva e coma melhor, não menos.
Sobre Sophie Deram: Autora do livro “O Peso das Dietas”, é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.