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Depois a Louca Sou Eu é comparável ao melhor da literatura neurótica

Uma boa maneira de perceber a qualidade de Depois a Louca Sou Eu, de Tati Bernardi, é notar a pluralidade de reações que a leitura vai desencadeando: empatia, antipatia, ansiedade, admiração pela autora e umas bufadas de riso súbitas mesmo que você seja um leitor mais empedernido, que não se entrega com facilidade.

Tudo isso nas apenas 144 páginas deste livro de crônicas que teve esgotada a primeira tiragem, de seis mil exemplares, e circula nas livrarias com uma segunda de mais quatro mil.

Tati Bernardi é um infinito de angústias. Isso supondo que seja ela mesma a protagonista para quem a felicidade só existe “no minuto dezessete do Rivotril sublingual 0,25 mg”, um remédio que tem entre os efeitos “o mundo cheirando a uma chuva fina que caiu sobre uma horta de manjericão fresco”.

Como acontece com frequência na literatura, a autora é a protagonista das crônicas e não é.

– Quando perguntam sobre o livro como se tudo o que está ali fosse real e não ficção fico bem angustiada – Tati Bernardi diz ao DC, ponderando que 90% das histórias são reais mas “ainda assim é uma personagem baseada em mim e não uma autobiografia”.

O estilo neurótico, fluente e humorístico dos textos imerge o leitor no cotidiano de quem sofre de ansiedade crônica. “Você que curte cocaína, ácido, mdma¿ me explica: para que se sentir pilhado? Eu me sinto pilhada desde que nasci e¿ que cansaço, pelo amor de Deus”, ela escreve em O Primeiro Rivotril e o Resto Todo. “Jura que você precisa de algo ‘que te tire de você’? Que ‘te leve daqui’? Eu só quero algo que me devolva a mim. Que me deixe ficar sentada, quieta, calma. Cansei de ser o balão com uma carinha histérica desenhada, preso por uma cordinha fraca que depende da boa vontade de quem segura.”

Quando se dá conta, o leitor está compartilhando a ansiedade da narradora com problemas imaginários, amizades e relacionamentos incompatíveis, festas cheias de pessoas insuportavelmente protocolares e outras situações sociais delicadas. Ou o pavor de vomitar, suportar cheiros em ambientes fechados, andar de avião e ter ataques de pânico – mesmo que você não costume sentir nada disso.

Tati Bernardi atinge um ponto de equilíbrio difícil: mantém o apelo pop dos roteiros de grande audiência que escreve para televisão e cinema (é dela o texto de Meu Passado me Condena, estrelado por Fábio Porchat) sem diminuir seu tema, que é sério.Ela se mostra ciente, por exemplo, dos poréns de chamar a atenção para o próprio sofrimento. “Sofrer é de uma arrogância egocêntrica sem limites”, diz no livro. Também conhece bem os poréns do exibicionismo, e depois de bancar a falastrona querendo chocar os outros, chega em casa e chora. “Sempre, depois de me consumir assim, choro em posição fetal na cama, completamente exaurida de mim mesma”.

Depois a Louca Sou Eu não deixa de ter gags dispensáveis, como a de a narradora ter tomado uma dosagem de tarja-preta suficiente para “inventar uma religião chamada Abraçando Árvores na Jamaica” e outras no mesmo estilo. Mas também não falta, em muitos momentos, um humor burilado.

Será que essa alta voltagem irônica, se abrandada, não poderia dar ainda mais espaço às ótimas reflexões? Tati Bernardi não concorda:

– Tem que se levar muito a sério pra poder tirar sarro de si mesmo. Tem que doer muito pra ficar engraçado. Tem que ser muito generoso com os outros pra falar mal de si mesmo. Acho que nunca vou perder esse tom.

Depois a Louca sou Eu: Companhia das Letras, 144 páginas, R$ 34,90

Leia trechos do livro

Arrumo tudo e deixo pronto para acalmar o martelo que esmurra meu cérebro, me achatando, eu lutando contra o desabamento do céu, de malas prontas, limpa, minuciosa, álcool gel, arrumada, água, pronta, fazendo listas e contas o tempo todo. E penso: “As pessoas estão nas festas, bebem, estão nas praias, cor de laranja, douradas. Eu estou branca, deitada no chão do lavabo, esperando que o gelado dos ladrilhos sejam asas.”

Na ânsia de logo ‘pertencer’ àquele novo grupo de colegas e não ter que passar por tudo aquilo de sorrir retinha e fazer elogios retinha e falar coisas sem graça e sem profundidade retinha e ser uma estranha almoçando com estranhos retinha, já fui contando que tinha acabado de levar um pé na bunda de um diretor conhecido e expus tudo sobre ele e sobre a traição dele e sobre o pai dele que estava morrendo e sobre como ele usou a morte do pai para se fazer de coitado e me trair ainda mais. (….) Uma hora meu espírito saiu do corpo, se deitou com uma taça de vinho num dos muitos sofás finos da sala, e ficou ‘me observando’ tagarelar diante de pessoas chocadas com tudo o que já sabiam sobre aquela garota que tinham acabado de conhecer. Quando cheguei em casa, chorei por duas horas. Sempre, depois de me consumir assim, choro em posição fetal na cama, completamente exaurida de mim mesma.

Outros livros de Tati Bernardi

A mulher que não prestava. Panda Books, 148 p., 2006, R$ 34,90. Textos de quando Tati Bernardi escrevia na revista VIP.

Tô com vontade de uma coisa que eu não sei o que é. Panda Books, 134 p., 2008, R$ 34,90. Crônicas sobre “amor, solidão, sucesso, sexo”.

Meu passado me condena. Paralela, 120 p., 2015, R$ 27,90. Histórias de Fábio e Miá, personagens vistos por milhões no cinema.

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