Dicas para minimizar o desconforto dos ruídos provocados pelas festas de fim de ano
Réveillon é época de festa, confraternização, otimismo e… muito barulho. A maioria das cidades brasileiras comemora a virada do ano com fogos de artifício que acompanham eventos de grande porte em locais como orlas de praias e avenidas.
Os intensos ruídos presentes nas comemorações de fim de ano podem causar medo e desconforto. Para crianças, idosos, pets e pessoas com espectro autista, por exemplo, os barulhos provocados por fogos de artifício e rojões podem ser especialmente perturbadores. Para isso, é importante considerar medidas que minimizem o desconforto auditivo nesta época do ano.
Cada pessoa apresenta particularidades e características anatômicas que fazem com que o seu canal de audição apresente diferentes ressonâncias (amplificações) dos sons que chegam ao tímpano.
– Níveis de pressão sonora acima dos 120 dB, em geral, causam irritação. Acima de 130 dB já é possível que haja uma ruptura parcial do tímpano ou perda de parte da audição. Alguns autores estabelecem um limiar de dor em 149 dB, mas nosso sistema auditivo é complexo e esse valor pode variar um pouco de acordo com as frequências que compõem o som. No caso do estouro de um rojão ou de fogos de artifício a menos de um metro de distância, se constata níveis acima de 140 dB, o que torna uma lesão permanente na audição muito provável – explica Pablo Serrano, PhD em Engenharia e Meio Ambiente pela University Of Southampton, no Reino Unido, mestre em Acústica pela UFSC e diretor do Portal Acústica, plataforma que oferece cursos online, presenciais, e materiais didáticos sobre acústica para estudantes, profissionais e empresas.
Apesar de o sistema auditivo ser uma estrutura inteligente, já que o tímpano se enrijece como mecanismo de proteção contra um nível sonoro mais alto, permanecer por tempo elevado sob a exposição de ruídos baixos já é suficiente para causar surdez a longo prazo.
– Para pessoas mais sensíveis aos ruídos, o ideal é proteger os ouvidos utilizando protetores auriculares. Os protetores com menor grau de atenuação do som e com preços mais acessíveis são os de inserção, basicamente espumas facilmente moldáveis que são encaixadas no canal auditivo. Os protetores auditivos de maior grau de atenuação são os do tipo concha sob fones de ouvido grandes. Recomenda-se aos pais e tutores que utilizem esses dispositivos em pessoas sensíveis que estejam próximas a locais com fogos de artifício – explica o especialista, que vê com bons olhos o uso de fogos de artifícios silenciosos em festas de réveillon, caso de cidades como Florianópolis, São Paulo e Poços de Caldas.
– Os fogos de artifício silenciosos estão ganhando mais espaço no mercado por conterem menos pólvora, material que causa as explosões. Como os outros elementos químicos não conseguem alcançar longas distâncias, os sons são minimizados – explica.
Tratamento acústico como opção
Recentemente, a Ford lançou um protótipo de casinha de cachorro com isolamento acústico. A ideia da marca foi apresentar as tecnologias de controles passivo e ativo que podem ser aplicáveis neste ramo.
– Assim como nos carros, há materiais escondidos entre a lataria e os carpetes que atenuam a vibração da lataria e reduzem o ruído interno do veículo. Esses materiais porosos ou fibrosos podem ser utilizados em sistemas construtivos diversos, inclusive na casinha dos cachorros. Este é um exemplo de controle passivo. Já o ativo usa do próprio som que chega até a casinha do cachorro através de um microfone para criar uma onda sonora que cancela parte das frequências existentes em um determinado ponto do espaço que o cachorro ocupa. Esse sinal é processado por um algoritmo complexo que apresenta eficácia limitada, mas que consegue reduzir em alguns decibéis o nível próximo a orelha do cachorro. Os sistemas passivos são mais baratos e eficientes, de forma que qualquer casinha poderia ser revestida de material acústico – completa o especialista.
Os materiais acústicos são os que apresentam coeficiente de absorção sonora elevados, ou seja, são materiais porosos ou fibrosos e têm eficácia dependente da espessura.
– É uma boa opção para altas frequências, no entanto, há algumas categorias mais complexas como ressonadores e metamateriais que possuem uma eficácia muito grande em somente parte do espectro de frequências. Tudo se resume a uma combinação entre materiais com peso elevado e acústico para se obter o isolamento máximo ao menor custo – completa Pablo.
Segundo o especialista, o que mais afeta os ambientes são os sons que entram por janelas e portas.
– Esquadrias pesadas, como as de alumínio, com vidros especiais em diversas camadas e vedações emborrachadas são a alternativa mais propícia para o público em geral. Assim como as portas acústicas, as janelas acústicas são mais caras do que as convencionais por serem mais pesadas e com mais detalhes técnicos. O ideal é conversar com um especialista, afinal, não adianta colocar uma janela acústica se logo abaixo há um vão de ar-condicionado cheio de frestas. O problema da falta de conforto, privacidade, confidencialidade e outros ocasionados pela falta de isolamento acústico pode estar em uma fresta que você nem imagina – finaliza.