Luiz Felipe acordou, nesta quarta, contando à mãe um sonho que teve. “Papai do Céu falou que nossa vida vai mudar”, disse o garotinho, exatamente na manhã do dia em que completou 5 anos. Flávia Vieira, de 38 anos, se segurou para não contar ao pequeno o que aconteceu, mas suas orações diárias de fato foram atendidas: o menino terá a tão desejada festa com o tema de minecrafts realizada no próximo sábado. O anjo da guarda é uma advogada chamada Rita, que nunca sequer viu o rapazinho, mas se comoveu com um anúncio escrito pela mãe num aplicativo de compra e venda de objetos na internet. Em vez de ofertar um produto ou serviço, a técnica de higiene bucal pediu doações para que Luiz Felipe pudesse ter uma comemoração “singela”: “De coração ficaremos eternamente gratos por ele”, escreveu.
Flávia conta que a vida da família, que já andava apertada com as parcelas da casa onde vive, em Campo Grande, ficou mais difícil quando a gravidez inesperada da filha mais nova aconteceu. A chegada de Sofia, de 1 ano e 6 meses, arrochou mais ainda as contas, ainda mais porque, assim como o irmão, ela tem um tipo de anemia que requer acompanhamento e uso contínuo de medicamentos. Para completar, a crise complicou a situação e o marido perdeu o emprego. As dívidas foram se acumulando até que ele conseguisse se restabelecer e o casal ainda batalha para quitar todos os compromissos.
— As coisas estão muito difíceis e não daria para fazer nem um bolinho para o Luiz Felipe, mas ele é criança, muito novo para entender, e me pedia todo dia para fazer uma festa. “Meu aniversário está chegando, mãe?”, perguntava. Aí bateu uma tristeza de ver meu decepcionado e resolvi, há um mês, anunciar no site — conta Flávia, que ainda ajuda a tomar conta da sua mãe, de 62 anos, que sofre com algumas doenças.
Flávia conta que o primeiro contato de Rita veio cinco dias depois do anúncio. A advogada ofereceu uma quantia suficiente para arcar com o custo de um bolo estampado com os minecrafts de que o aniversariante tanto gosta, salgadinho, refrigerantes e até docinhos. Muito mais do que a família imaginava conseguir.
— Meu marido chegou a me dizer que estava me expondo à toa, que ninguém ia nos ajudar, mas quis dar a última cartada. Não imaginava que a população seria tão solícita. Recebi muitos comentários, contatos de pessoas de outros municípios, todo mundo querendo doar alguma coisa, mas não conseguimos ir pegar porque não tínhamos carro — revelou a mãe, especialmente grata à doadora: — Agradeci infinitamente a felicidade que ela proporcionou a essa família, que ela nem conhece. É muita generosidade! Estou super emocionada. É isso que faz o ser humano, essa capacidade de ter compaixão — completa a mãe, enquanto planeja encher as paredes da casa de bolas pretas e verdes.
